Sobre «Singularidades duma rapariga loura»

Sobre «Singularidades duma rapariga loura»

Hoje aqui vos deixo um excerto simpático sobre a origem do livro Singularidades duma rapariga loura do nosso amigo Eça de Queirós, retirado da revista Queirosiana nº23/24, a revista editada pela Fundação Eça de Queirós (FEQ). O tema desta revista é Eça de Queirós no contexto da História dos Media, e o artigo mencionado (o primeiro da revista) intitula-se «Impaciente Aspiração: A Questão Mediática em Eça de Queirós» da autoria de Carlos Reis. Devo dizer que vale a pena ler todo o artigo para ter uma clara noção na forma como os media do século XIX foram importantes para o autor! No entanto, hoje apetece-me apenas deixar um lamiré sobre o contexto em que surgiu o pedaço de prosa que serve ao título deste post! Ei-lo:

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«Em 1874, o ainda jovem Eça volta a aproximar-se do livro; de novo, contudo, não o faz como autor único. Falo da primeira publicação do extenso conto Singularidades duma rapariga loura, inserto no Brinde aos senhores assinantes do Diário de Notícias em 1873. Era esta uma publicação destinada não apenas a “premiar” os assinantes do jornal, mas também, como hoje dizemos, a fidelizá-los; e assim, com uma periodicidade mitigada, um voluminho de autor único ou pluri-autoral assinalava o que se lê na contracapa da publicação de 1874: “Todos os anos [o Diário de Notícias] distribui aos seus assinantes, como brinde literário, e em sinal de gratidão pela alta proteção que lhe é dispensada, um livro expressamente composto e impresso para este fim”.

Repare-se: se um jornal oferecia um livro, ele buscava com isso não apenas conservar os assinantes, mas também, por certo, “brindá-los” com uma oferta de prestígio. Essa oferta tinha o formato de livro, assemelhando-se, por isso, ao que ainda hoje a imprensa periódica e a imprensa diária regularmente fazem. […]

Diferentemente d’As Farpas e d’O Mistério da Estrada de Sintra, o conto Singularidades duma rapariga loura não ganhou direito a integrar um livro de Eça (e só dele) a não ser postumamente. No caso e logo em 1902, seguiu-se o critério de género narrativo e integrou-se o relato no volume Contos, título ‘neutro’ do ponto de vista semântico, que espelha bem aquele adequado princípio genológico (e contudo, o princípio não foi integralmente cumprido, uma vez que outros relatos queirosianos, como forma de conto, ficaram de fora). Sendo assim, pode dizer-se que o trânsito público do conto em apreço foi circunstancial, restrito a um nicho de destinatários (os assinantes do Diário de Notícias) e alcançando, quando muito, leitores situados na sua esfera (família e pouco mais).»

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Caso alguém se interesse por obter este conto impresso, aqui fica o link para o dito cujo na FNAC e, só para não ser tendenciosa, no OLX também.